quinta-feira, 20 de maio de 2010

Culto Ecológico



(Cachoeira do Evilson Taquaruçu Palmas Tocantins)

A educação ambiental na crise ecológica

As discussões sobre questões ambientais tornam-se cada vez mais freqüentes nos mais diversos espaços sociais. A partir dos anos 80 elas viraram reportagens centrais da mídia e de modismos nos quais os desastres ecológicos e as previsões apocalípticas tornaram-se personagens principais. Realmente, a interferência do ser humano no meio ambiente tem trazido graves consequências ao ambiente natural, do qual fazemos parte. A extinção de espécies, poluições, mudanças de clima, escassez de matérias-primas úteis e outras transformações fazem parte do momento atual (BRÜGGER, 2004).

Além de esta realidade nos exigir uma posição ativa frente aos desastres, a chamada “crise ecológica” denuncia um conflito muito mais amplo que envolve nossa sociedade. Fica evidente que a degradação da natureza revela diversas questões políticas e culturais que perpassam as relações humanas. Brügger (2004) mostra que a crise ambiental revela a impossibilidade de dividirmos sociedade-natureza, cultura-natureza, natureza-história.

Individual ou Coletivo

Percebemos que a maioria das políticas de conservação e proteção do meio ambiente frequentemente estão aliadas a interesses individuais ou de grupos. De acordo com um estudo feito nos EUA (ALISON, 1981), o preço pago às pessoas que separavam seus resíduos interferia significantemente na prática ou não da separação. Uma outra suposição deste estudo é que as pessoas somente reciclavam seus resíduos se o preço pago por produtos reciclados se tornasse economicamente vantajoso.

A partir destas idéias notamos que a maioria das práticas de conservação são marcadas por visões antropocêntricas, do ser humano como centro do mundo, em que as necessidades materiais, o medo de punição e de coerção predominam sobre a consciência do cuidado. No que se refere à preservação da vida, Brügger (2004) argumenta que a lógica é a mesma: “preserva-se genes valiosos, ou seja, preserva-se a vida pelo seu valor instrumental” (p.22), pela sua utilidade. Assim, os seres vivos ficam reduzidos a meros recursos para o ser humano, já que suas funcionalidades podem ser fatores determinantes para suas preservações ou não. Se, por um lado, o ser humano faz parte da natureza e, de outro, ele a utiliza como um produto, poderíamos pensar que nas relações humanas não seria diferente.

A partir destas problematizações é que surgem as diversas modalidades de “educação ambiental”. Inicialmente, elas surgiram vinculadas à disseminação técnica de conhecimentos específicos que visavam à proteção do meio ambiente, incentivavam a separação de lixo, conscientizavam a população sobre determinada espécie em extinção ou ainda, de exemplo, promoviam campanhas de reflorestamento. Com seu desenvolvimento, surge uma nova forma de educação ambiental, que é permeada pelo questionamento de aspectos históricos e culturais da relação das pessoas com o meio ambiente. A importância dos processos históricos, da relação do ser humano com os recursos naturais e entre si são aspectos que recebem atenção desta perspectiva de educação ambiental. Brügger (2004) questiona o porquê do adjetivo “ambiental” ter sido incorporado. Ele acredita que a introdução deste adjetivo denuncia que a educação não tem sido ambiental, mas sim tradicional. Desta forma, a implantação de uma educação “ambiental” abre discussões sobre quais valores devem guiar a educação para o meio ambiente e que conhecimentos precisam ser aprofundados nestas práticas.

Mudança de valores

Percebe-se que dentro da educação ambiental duas perspectivas predominam: a de uma educação conservacionista, que ensina e conduz ao uso racional dos recursos naturais e por sua conservação; e de uma educação para o meio ambiente, a qual é marcada por uma necessidade profunda de mudanças de valores, em que uma nova visão do sistema integrado deverá ultrapassar a mera idéia de conservação. O caráter essencialmente técnico nos leva a pensar a perspectiva conservacionista como uma educação ambiental que apenas “adestra” os sujeitos. Segundo o autor, este adestramento se daria em diversos âmbitos da atual educação formal. Este adestramento é necessário para o convívio em sociedade; mas, uma adequação a um sistema social que perpetua uma estrutura injusta e desigual é o que deve ser criticado.

Esta crítica parte da preocupação com o meio ambiente de forma ampla e integrada. Viver em um ambiente saudável significa encontrar nele uma estrutura suficientemente boa para se ter um bem estar. Dessa forma, todos aqueles que atuam de forma coletiva ou individual contra este bem estar poderiam ser então considerados anti-ambientais. Estas atuações contra o ambiente se estabeleceriam através das prioridades que estas pessoas ou grupos colocam nas suas vidas. Por exemplo, atualmente diversos pesquisadores investem seus estudos em descobrir formas da mulher engravidar depois que esta já passou da idade reprodutiva ao mesmo tempo em que milhares de crianças são abandonadas. Estudos se concentram em aperfeiçoar dietas alimentares enquanto milhares passam fome. Uma grande quantia de dinheiro é investida em programas espaciais, monumentos e grandes construções arquitetônicas enquanto muitos não têm onde morar (BRÜGGER, 2004).

Todas estas práticas, muitas vezes, são justificadas em nome de uma ordem técnica ou científica. A neutralidade destes discursos se contradiz no momento em que ela se presta a aumentar satisfações hedonistas de seus protagonistas ligadas ao reconhecimento profissional, destaque, sucesso, aparência física etc. A crise ambiental nos exige uma revisão de prioridades, escolhas técnicas e éticas que fazemos. A idéia de progresso e desenvolvimento na qual muitas destas práticas se justificam podem estar nos fazendo trocar expressão “falta de ética” por “bem sucedido”. Em discussões sobre a problemática ambiental, diversos autores parecem concordar ou convergir em ao menos um ponto: “nossa civilização é insustentável se mantido(s) o(s) nosso(s) atual(is) sistema(s) de valores” (GRÜN, 2005, p.22). Para que se possa ultrapassar esta crise de valores, a educação ambiental crítica deve abordar não apenas a história “natural” das coisas, mas, das relações dos seres humanos com ela e entre si.

A problemática das desigualdades sociais, da distribuição de riquezas, das discriminações, dos direitos humanos e das micro e macro políticas deveria fazer parte das discussões sobre o meio ambiente. De acordo com pesquisas da UNESCO e UNICEF (CASTRO e ABRAMOVAY, 1997), os movimentos ambientais precisariam responder a princípios e objetivos em comum. Estes objetivos deveriam ser pensados através da ética da qualidade de vida de forma não predatória, não violenta, não consumista e tolerante. Para que haja um desenvolvimento sustentável, as pesquisas apontam que seria necessário entrelaçar discussões sobre o cuidado com a terra, com as águas, florestas, habitat urbano, sobre os indivíduos e os distintos lugares sociais que estes ocupam.

As situações que colocam pessoas em exclusão ou as fazem sofrer violências por conflitos de interesses, divisões de trabalho e poder, precisariam ser problematizadas para que se pense que espaços ambientais e modos de relações se quer construir. Em síntese, precisa-se ouvir, registrar e problematizar o que faz a sociedade civil e as pessoas de forma geral, na mobilização por cuidados ao meio ambiente. Através desta escuta, será possível construir uma educação que produza cidadania, uma educação que produza sujeitos conscientes do meio do qual fazem parte e que percebam a responsabilidade e importância que possuem por estarem vivos.


Referências:

ALISON, Robert M. The Earliest traces of a conservation conscience. Natural History, 90(5): 72-77, 1981.

BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? 3ª. ed.rev.ampl. Chapecó: Letras Contemporâneas, 2004. 199 p.

CASTRO, Mary Garcia; ABRAMOVAY, Miriam. Gênero e meio-ambiente. 2. ed. rev.ampl. São Paulo: Cortez, 2005. 144 p.

GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. 9. ed. Campinas: Papirus, 2005. 120 p.

Daniel Dall'Igna Ecker,
Porto Alegre - RS.









(Cachoeira do Roncador Taquaruçu Palmas Tocantins)

Floresta

À sombra vira-folhas
em muxoxos murmurinhos
nos castos ninhos
na densa floresta de frutos
de copa altaneira celtitudes
de balanços palmeiras
encantos abrigo de alegres cantos
de passarinhos à sós mussitando
nas grutas às escuras
espigas de flores soturnas
dos troncos rijos adornos
folhas-de-prata opulências
de bromélias ao relento
guaches pinceladas matizes
suspensas róseas vistosas
na selva musgosa verdecente
a fingirem-se esconderijos
brássias, não-me-esqueças
em delírio tintas sorrindo
no maior luxo enlaçadas
à solta na paz meditando
amor monocarpo no íntimo
sem fins-d'águas murmulhos
no maior sigilo verde-água
nas folhas-da-fonte em relevo
entre orquídeas em chamas
e não-me-deixes floríferas
pós dilúvios nubíferos
das paixões policárpicas
à sombra fora de perigo
tesouro nubívago
amor por ti entrelaça.


(Agnes Altmann)


Postado por: Sonia Margarete de Medeiros.

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